John Piper: Como Ler a Bíblia Para Adolescentes

O texto abaixo é a tradução resumida da resposta de John Piper sobre a sua série de vídeos onde ele mostra como faz estudos bíblicos mais detalhados. (Look at the Book)

Pergunta: Oi pastor John. Assistir seu trabalho nas Escrituras no Look at The Book é encorajador para minha alma e para meu próprio estudo bíblico. Obrigado! No entanto, à medida que procuramos discipular nossos filhos adolescentes em casa, podemos nos sentir inadequados ao explicar as passagens dessa maneira, e estamos preocupados com o fato de estarmos perdendo o ponto ou, pior ainda, ensinando-os incorretamente. Você recomenda o uso de técnicas como as que você usa no Look at The Book? Ou você recomenda outra técnica? Como pais de adolescentes podem treinar seus filhos para fazer algo parecido com o que você faz?

Crie o cenário

Bem, parece-me que a primeira coisa que um pai tem que considerar é se o cenário foi criado na família ou na igreja onde esse tipo de ensino será adequado para o jovem.

Sim, acho que deveríamos tentar ensinar nossos jovens, mas temos que fazer a seguinte pergunta: criamos o cenário? O que quero dizer é: a família está acostumada a ter devocionais que envolvem somente a leitura das Escrituras e da oração? Se assim for, pode parecer estranho se, de repente, transformarmos esse tipo de momento em família numa sala de aula com tarefas, perguntas e tudo mais.

Parece-me que toda família precisa aceitar isso. Podemos criar um tempo ou um ambiente na família ou na igreja com uma comunhão de pessoas mais jovens, onde algo como uma situação de sala de aula – com expectativas de raciocínio rigoroso, perguntas e respostas, análises e tarefas – pareça natural e até empolgante? A mentalidade precisa ser criada. Posso criar um ambiente na família em que o ensino pode acontecer?

Hábitos da mente e do coração

Uma vez que você entendeu isso, e espero que você tenha entendido, a questão é: o que você faz com esse tempo? Aqui está uma sugestão.

O que está guiando minha sugestão aqui é que o objetivo deste ensinamento é um hábito vitalício da mente e do coração para abordar as Escrituras de uma certa maneira. Em outras palavras, ser capaz de reproduzir uma técnica particular não é o objetivo. Tentar reproduzir as experiências de  Piper no Look at the Book não é o objetivo. Mas os hábitos da mente e do coração que você inculca, ou que você constrói em seus filhos enquanto trabalha com essas técnicas – esse é o objetivo.

Eu explicaria esse objetivo para meus filhos. Eu diria “é por isso que estamos aqui. Eu não estou tentando criar um pequeno John Piper a partir de você. Eu só quero estimular em você certos hábitos mentais e hábitos de coração para que você possa abordar as Escrituras proveitosamente para o resto de sua vida. ”

Deixe-me fazer isso: Eu quero te dar a resposta para a pegrunta “o que John Piper procura num texto bíblico?”. É isso que você quer que seus filhos encontrem, ok? Eu tenho sete perguntas que faço diante de um texto.

  1. Definir os Termos

Qual é o significado de uma determinada palavra em um contexto? A mesma palavra pode ter muitos significados diferentes em diferentes situações, então, como Piper decide sobre qual significado a palavra tem num contexto específico? A resposta é que ele olha para o contexto mais imediato, a frase em que a palavra é usada, depois ele olha para o parágrafo, e depois, então,  ele olha para o livro. Tome, por exemplo, uma palavra que é usada tanto em Efésios quanto em Romanos. Eu olharia para esses livros, depois para o resto dos escritos de Paulo e depois para toda a Bíblia.

  1. Encontre as proposições

Quais são as proposições que o autor criou colocando as palavras juntas? Proposições são os blocos básicos de construção do significado. Palavras obtêm seu significado a partir de seu uso em proposições. Proposições são as afirmações mais básicas. Elas geralmente têm um sujeito e um verbo com alguns modificadores. Assim, podemos estar olhando para Romanos 1:16 e a palavra que queremos definir é “evangelho”, enquanto a proposição em que se encontra é “não me envergonho do evangelho”. É isso que quero dizer com palavras e proposições.

  1. Esclarecer os relacionamentos

Como as proposições são relacionadas umas às outras? A proposição começa com “porque”? Ou começa com “portanto” ou “dessa forma”, ou “embora”, ou “quando”, ou “assim”? Isso realmente ajuda a classificar todos esses relacionamentos. É assim que um autor comunica seu significado. Ele coloca palavras juntas em proposições e então agrupa proposições em certos relacionamentos lógicos.

Por exemplo, notamos em Romanos 1:16 – “Eu não me envergonho do evangelho” – que ele tem um relacionamento com o que está na após e o que vem anteriormente. Ele diz: “Estou ansioso para pregar o evangelho para vocês que estão em Roma. Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação”. Você tem três elos em uma cadeia de argumentação. Quando comecei a ver isso aos 22 anos meu mundo explodiu de emoção e percepções.

  1. Determine o ponto principal

Então eu pergunto: Qual é o fluxo de argumentação enquanto essas proposições se agrupam em suas relações, qual é o ponto principal desse fluxo?

  1. Compare os textos

Quais são os fluxos de pensamento semelhantes em outras partes da Bíblia? Por exemplo, neste fluxo de “não me envergonho do evangelho” em Romanos 1, podemos ir até 2 Timóteo 1:12, onde Paulo diz: “Não me envergonho, porque sei em quem tenho crido”.

Qual é a relação entre o fluxo de pensamento da superação da vergonha em 2 Timóteo e dessa superação em Romanos 1? Quando faço comparações como essa, com fluxos semelhantes de pensamento comparados lado a lado, as percepções se multiplicam.

  1. Encare a realidade

Qual é a realidade – isso é muito importante – a realidade por trás das palavras, proposições e fluxos de pensamento? Muitos jovens e pessoas mais velhas, quando estão empolgadas em ver o significado das palavras, vendo como as proposições funcionam, vendo como os fluxos lógicos de pensamento se desenvolvem, ficam empolgadas com as palavras e a lógica.

De repente eles estão jogando um jogo e esquecendo que há céu e inferno, vida e morte, Deus e Satanás. Realidades maciças estão por trás dessas palavras, então eu quero empurrar-me  através das palavras para a realidade. Esse é o número seis: qual é a realidade?

  1. Aplique o texto

Finalmente, quais são as aplicações pessoais que posso fazer do significado do autor para a minha vida e o mundo ao meu redor?

Em todas essas sete perguntas, a ferramenta mais útil é a concordância – ou seja, o livro ou o programa de computador que permite que você veja todo o uso de uma determinada palavra por um autor em todos os locais em que ela é usada. Esta é a minha ferramenta mais usada no estudo da Bíblia. Comentários nem chegam perto. Os dicionários bíblicos nem chegam perto. O que gera todos os insights, quase noventa por cento das vezes, é procurar palavras que me colocam nas linhas de pensamento da mente de um autor.

Hábitos para a vida

Depois de ajudar seus filhos a identificar esses sete tipos de perguntas, você simplesmente quer que eles formem o hábito de perguntar e responder a essas perguntas por toda a vida.

Você não pode fazer isso por eles. Eles têm que fazer isso por si mesmos. Você pode fazer isso trabalhando os textos com essas perguntas. Vocês podem fazer isso juntos. Você pode encarrega-los para fazer isso de novo de novo e de novo. Uma última sugestão: escrever as respostas a essas sete perguntas para cada texto que você estuda é muito mais proveitoso do que tentar responder na sua cabeça.

Tenha em mente que o objetivo não é dominar uma técnica semelhante a de John Piper no Look at the Book. Esse não é o objetivo. O objetivo são hábitos duradouros da mente e do coração que humildemente e avidamente perguntam e respondem perguntas a partir da Bíblia.

John Piper

Texto original - How to Read the Bible for Teenagers

Tradução: Pedro Pamplona

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