Não Feminista, a Bíblia Não é Machista!

Nesse artigo resumido farei uma exposição do machismo e da autoridade-sacrificial masculina na vida da família e da igreja. Leia até o final e se desejar assista a pregação com esse mesmo tema*. Deixe-me explicar a razão desse assunto. Há alguns dias postei na internet um texto chamado “A meninização e feminilização do homem cristão”. Tratei de forma bem resumida sobre o problema que muitas igrejas, jovens e homens mais velhos tem enfrentado em relação a masculinidade. A repercussão foi enorme. Foram mais de 200 comentários no blog e outras várias mensagens no Facebook. Muitos concordaram e apoiaram, mas muitos outros discordaram e fizeram críticas e acusações. A maioria delas girava em torno da minha seguinte frase:

“A igreja precisa de homens, e muito. De mulheres também, mas primordialmente de homens. Nós fomos chamados a exercer o papel de liderança, de ensino…”

Acusação principal foi semelhante ao que estamos acostumados a ouvir e ler nos meios de comunicação: MACHISTA! A lógica da questão é a seguinte. [1] Muitos definem a exclusividade da liderança do homem na família e na igreja como Machismo. [2] A Bíblia ensina, e esse é o ponto que estou defendendo, que a liderança na família e na igreja é exclusiva do homem. [3] Logo, aqueles que consideram esse ensino machista consideram também a Bíblia como machista. [4] E se a Bíblia é machista Deus é machista.

Quero agora quebrar essa linha de raciocínio lógico ao destruir a sua primeira premissa: a liderança exclusiva do homem na família e na igreja não é machista. Pelo contrário, trata-se de uma autoridade-sacrificial baseada na pessoa e na obra de Jesus Cristo. Veremos primeiramente como o feminismo tem definido o machismo, logo depois argumentarei resumidamente em defesa da liderança exclusiva masculina e passarei a falar mais extensamente do conceito de autoridade-sacrifical, trazendo aplicações do evangelho para nossas vidas.

Feminismo e sua definição de machismo

Uma rápida análise histórica e ideológica do feminismo se faz necessária para entender o que está por trás da definição de machismo. O movimento feminista pode ser dividido em duas ondas distintas. Alguns falam em três ondas, mas prefiro ficar apenas com duas. A primeira onda teve início ainda no século 18, com um foco na luta pelos direitos da mulher e igualdade social entre os gêneros. Estava em jogo principalmente o direito a voto e questões legais sobre o casamento e propriedades. O movimento se desenvolveu pelo século 19 e chegou ao seu momento marcante em 1848, quando um grupo de aproximadamente 100 mulheres se reuniu para afirmar a “declaração de sentimentos”.

Esse documento foi um marco na luta feminina contra os impedimentos em relação a empregos melhores e salários, exclusão de certas profissões como a medicina e advocacia e um duplo padrão de moralidade que privilegiava os homens. Após as primeiras décadas dos anos 1900 a primeira onda enfraqueceu e o feminismo ficou em silêncio por alguns anos. Esse silêncio foi rompido no início dos anos 60 com a segunda onda, conhecida também como o feminismo moderno. Aqui precisamos dar uma atenção maior. Em seu livro chamado “O Erro Feminista”, Mary Kassian divide a segunda onda feministas em três momentos distintos:

  1. Década de 60 – definindo a si mesmas.
  2. Década de 70 – definindo o mundo.
  3. Década de 80 – definindo a Deus.

Vamos analisar resumidamente cada um desses momentos e construir o conceito feminista de machismo.

Definindo a si mesmas (1960-1970): A filósofa francesa Simone de Beauvoir quebrou o silêncio e iniciou a segunda onda com o seu livro “O Segundo Sexo”. Como o nome sugere, sua ideia era a de que a mulher era de uma classe inferior ou de segunda classe em outras palavras. De Beauvoir teve uma grande aproximação com o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre e chegou a ter um relacionamento amoroso com ele. Portanto, seu feminismo estava unido ao existencialismo, tendo forte apelo ao marxismo. Pela sua linguagem mais acadêmica, o livro e as ideias de Simone De Beauvoir só ganharam mais fama através da jornalista Betty Friedan. Ela publicou um livro chamado “A Mística Feminina” e ajudou a popularizas as ideias de De Beauvoir. Elas não tinham ainda nomeado o grande opositor do feminismo, mas no final dos anos 60 uma autora chamada Kate Millet usou o termo “patriarcado”, que significa o governo do pai, em outras palavras, do homem. Sobre isso Kassian comenta:

“O patriarcado era a palavra que Beauvoir e Friedan estavam procurando. De acordo com as feministas, o patriarcado era o poder dos homens que oprimia as mulheres e era responsável por sua infelicidade. As feministas pensaram que o fim do patriarcado traria a realização das mulheres e permitiria que elas se tornassem plenas” (KASSIAN, Mary. 2005, p. 27)

O feminismo moderno nasce então com uma descontrução da visão judaico-cristã da feminilidade e da relação entre os gêneros. O feminismo que nós temos hoje, tem sua base nas filosofias existencialista e marxista, ambas contrárias a nossa visão bíblica. O machismo então estava no patriarcado, ou seja, a liderança opressora que torna a mulher um indivíduo de segunda classe, inferior ao homem.

Definindo o mundo (1970-1980): No início dos anos 70 o feminismo evoluiu para uma análise de mundo centrada na mulher. O movimento entendia que até aquele momento o homem foi o responsável por definir o significado das mais diversas áreas da vida. O feminismo passou a oferecer uma definição da história, filosofia, antropologia, economia, direito, etc, centrada na mulher. Aqui o orgulho de ser mulher e diferente do homem começa a ser disseminada e uma visão de superioridade ganha um corpo mais forte. O feminismo agora estava preocupado em descontruir toda uma cosmovisão judaico cristã de família, masculinidade e estruturas sociais. O machismo passou a ser o sistema ou cosmovisão adversária. O cristianismo passou a ser machista. A bíblia era a representação de machismo patriarcal.

Definindo a Deus (1980-1990): As três fases apresentadas por Kassian no ajudam a entender o desenvolvimento do pensamento feminista e suas ênfases, mas os elementos de cada década já estavam presentes de alguma forma nas outras. Nos anos 80 a figura de Deus passou a ser o foco do feminismo, mas já em 1972 Helen Reddy, ao ganhar um Grammy por sua música sobre a mulher disse: “eu gostaria de agradecer a Deus porque ela fez tudo isso possível”. Antes mesmo disso, Betty Friedan já havia previsto que o grande debate da década seria “Deus é ele?”. Fica claro que para descontruir uma cosmovisão é necessário descontruir sua fonte. O Deus judaico-cristão foi distorcido para caber na visão feminista de mundo. Deus como homem passou a ser uma verdade opressora, principalmente dentro da igreja. Um Deus homem seria um deus machista. E assim o feminismo como movimento filosófico e ideológico tem se desenvolvido, com suas grandes variações claro, até hoje.

Como a igreja se envolveu com o feminismo?

Infelizmente a igreja não ficou livre da filosofia feminista. A debate na igreja teve início ainda nos anos 50 com a publicação de um livro chamado “O Trabalho e o Status da Mulher na Igreja” de Katherine Bliss. Nos anos 60 ativistas cristãs focaram nessa questão e começaram a lutar pela igualdade da mulher diante do homem na igreja. Uma das questões principais era a da ordenação feminina. Havia uma legitimidade em defender que a mulher poderia contribuir intelectualmente, mas a doutrina a liderança masculina estava sendo atacada. Em 1961 o Concílio Mundial de Igrejas intensificou o debate sobre o papel da mulher na igreja. Sobre isso Augustus Nicodemus Lopes escreveu:

“o Concílio Mundial de Igrejas distribuiu um panfleto intitulado Quanto à Ordenação de Mulheres, chamando as igrejas afiliadas para um “re-exame” de suas tradições e leis canônicas. Várias denominações começaram a aceitar que o cristianismo havia incorporado em seus valores uma atitude patriarcal dominante da cultura de suas origens. Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais, presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja precisa de libertação. Com esta conclusão em mente, de que a mulher precisava de libertação dentro da Igreja, estabeleceu-se um curso de ação que tinha como alvo abrir as avenidas para o ministério ordenado das mulheres tanto quanto para os homens” (LOPES, Augustus. 2011)

A principal bandeira era a da ordenação feminina. A exclusividade da liderança masculina era vista como uma forma de machismo que classifica a mulher como uma segunda classe menos importante na igreja. Inicialmente a história da igreja e a Escritura passaram a ser reinterpretadas.  A tese de Wayne Grudem em seu livro “Feminismo Evangélico” é que existe uma ligação clara entre o liberalismo teológico e a aprovação da ordenação de mulheres. No liberalismo a ideia de que a Bíblia é verdadeira em todas as suas afirmações é rejeitada, abrindo, portanto, portas para a relativização com base nas demandas culturais. O problema hermenêutico também se faz presente com o método histórico-crítico e com o foco da interpretação no leitor, onde ele pode atribuir significado livremente ao texto de acordo com sua bagagem social e cultural.

É importante dizer que não estou afirmando que todos aqueles que defendem a ordenação feminina estão dentro desse feminismo evangélico liberal. Isso não é verdade, mas concordo com as palavras de Grudem quando ele diz:

“é inquestionável o fato de que o liberalismo teológico conduz à aprovação da ordenação feminina. Embora nem todos os igualitaristas sejam liberais, todos os liberais são igualitaristas… Liberalismo teológico e aprovação da ordenação feminina caminham de mãos dadas” (GRUDEM, Wayne. 2009, p. 27)

Portanto, podemos dizer que a base do feminismo secular é o existencialismo e a base do feminismo evangélico é o liberalismo. Além disso, existe um aparelhamento marxista tentando moldar a sociedade por meio da força do Estado. Podemos então definir o machismo de uma perspectiva cristã como a liderança ordenada exclusiva e opressora masculina, revelada por Deus, que classifica a mulher como sendo de segunda classe e menos importante na igreja, impossibilitando que ela seja plenamente realizada em sua vida. Quero a partir de agora defender biblicamente a exclusividade da liderança ordenada masculina e mostrar que ela se baseia numa autoridade-sacrificial que liberta a mulher e permite que ela seja plenamente realizada. Meu objetivo é mostrar que a Bíblia não é machista. Nem Deus!

O ensino bíblico da liderança exclusiva masculina

O feminismo evangélico tem oferecido novas e estranhas interpretações para alguns textos bíblicos importantes sobre a ordenação feminina. Divido esse texto em dois grupos. No primeiro grupo estão os textos que afirmam a igualdade sem distinção das mulheres e mostram mulheres em posição ordenada de liderança no Novo Testamento. No segundo grupo estão os textos que proíbem a autoridade e liderança ordenada de mulheres, os quais são interpretados como restritos a época e cultura das igrejas do Novo Testamento. Vamos analisar esses dois grupos rapidamente¹.

No primeiro grupo encontramos os seguintes textos:

Romanos 16.7: “Saúdem Andrônico e Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim”

Esse é um texto bastante complicado que cita Júnias como uma pessoa notável sobre os apóstolos. A discussão é aberta pelo menos em 2 sentidos. Os estudiosos não fecham com absoluta certeza se esse é um nome masculino ou feminino. As duas opções são possíveis. Não há uma certeza absoluta sobre se a expressão “notável entre os apóstolos” significa que eles eram apóstolos, ou apenas eram estimados entre os apóstolos. Portanto a única conclusão que podemos tirar é que Júnias eram uma pessoa importante para Paulo e que ajudou no ministério dos apóstolos. Não há nenhuma evidência de que se trata de uma mulher apóstola como os 12 de Cristo.

Gálatas 3.28:Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”

O feminismo evangélico tem defendido que esse texto anula as diferenças que são citadas. Muitos entendem que a submissão da mulher foi resultado da queda e que a obra de Jesus anulou qualquer distinção entre homem e mulher.  Entendem que ser um em cristo significa igualdade sem distinção. Pelo contexto da passagem fica claro que não é a isso que Paulo se refere. O texto está falando de justificação e da nossa posição diante de Deus. Todos, sem distinção são recebidos da mesma forma, somente mediante a fé. Um em cristo significa essa unidade dos justos. O texto não se refere a funções, mas à posição legal diante de Deus.

Atos 2.16-18: “Pelo contrário, isto é o que foi predito pelo profeta Joel: Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos”

Nessa passagem a profecia de Joel citada por Pedro inclui as filhas e as servas. Para o feminismo evangélico o recebimento dos dons por parte das mulheres é um sinal da igualdade sem distinção entre elas e os homens. A lógica é que se elas receberam dons também estão aptas para serem ordenadas. Essa argumentação é reforçada pelo serviço que algumas mulheres prestaram a igreja, como as filhas de Felipe, Febe, Priscila e outras citadas no Novo Testamento. Para eles o evento do pentecoste teria acabado com qualquer distinção de função entre homens e mulheres. O problema é que isso não tem qualquer relação com a ordenação ao presbitério no Novo Testamento. Nem mesmo os dons miraculosos são citados nas listas de Paulo em Timóteo e Tito. O que vemos o apóstolo requerendo é que o candidato seja homem e apto para o ensino.

Essas três passagens, portanto, não oferecem nenhuma base para a ordenação feminina. Construir esse argumento em cima dessas passagens e uma falácia insustentável. Por outro lado, o que podemos aprender com essas passagens é que a mulher é recebida diante de Deus e justifica somente pela fé assim como os homens, recebeu dons do Espírito assim como os homens e pode ajudar grandemente no avanço do evangelho assim como os homens. Vamos ver agora as passagens que restringem a liderança ordenada na igreja aos homens.

1 Coríntios 11.3-5: “Quero, porém, que entendam que o cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus. Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra a sua cabeça; e toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é como se a tivesse rapada”

 A Escritura é clara aqui. Paulo traça uma linha de autoridade que tem sua origem em Deus Pai. Assim como o Pai é o cabeça de Cristo e Cristo o cabeça do homem, assim também o homem é o cabeça da mulher. Paulo está baseando seu argumento da autoridade masculina num princípio teológico trinitário. Relacionalmente o Pai tem um papel de autoridade diferente Filho e exerce autoridade sobre Ele pelo menos durante a economia da salvação. O debate gira em torno do significado da palavra “cabeça”, ou “Kephalê” no original grego. O feminismo defende o significado de fonte, mas o que parece bem mais correto é o significado de “autoridade”. Portanto, o homem, assim como Deus Pai e o Filho, é igual em essência, mas diferente no seu papel relacional.

O texto continua falando sobre o uso do véu. Cobrir a cabeça para o homem é desonra e não cobrir para a mulher é que se torna desonroso. Segundo Augustus Nicodemus isso se deve ao fato de que o véu era um símbolo cultural de submissão e as mulheres de Corinto estavam criando certa contenda para acabar com essa prática e exigir uma certa igualdade de funções. O Ensino de Paulo é que embora a mulher possa orar e profetizar no culto público assim como homem, ela precisa fazer tudo isso em submissão a liderança ordenada masculina. Paulo encerra seu argumento nos veros 8 e 9 com mais uma base teológica, dessa vez sobre a criação.

“Por que o homem não foi feito da mulher, e sim, a mulher do homem. Porque também o homem não criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem”

Quando a Bíblia é clara e os argumentos são fortes o feminismo evangélico tenta descontruir o significado da Bíblia. Para eles esse ensino de Paulo não se aplica mais a nós hoje, pois era somente à cultura e os problemas daquele tempo e daquela igreja. Será isso verdade? Não. E me parece que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, já estava prevendo esse ataque falacioso. É por isso que ele faz questão de basear seu ensino sobre dois princípios teológicos e imutáveis: a Trindade e a Criação. Ao fazer isso Paulo eterniza seu ensino para todas as épocas, não apenas para aquela época específica. Nós precisamos fazer a distinção entre o princípio teológico que é supra cultural e a expressão cultural do princípio. Enquanto elementos culturais são passageiros, como o véu por exemplo, princípios bíblico-teológicos são eternos. Não é preciso usar o véu hoje, mas o homem permanece com a função de autoridade na família e na igreja. Nenhuma filosofia e ideologia desse mundo pode substituir princípios teológicos instituídos por Deus nas Escrituras!

1 Coríntios 14.34-35: “permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a lei”

Mais à frente em Corinto Paulo volta a tratar do papel da mulher na igreja. Agora ele usa uma linguagem mais forte que tem sido bastante discutida. A interpretação feminista é de que Paulo está lidando com mulheres barulhentas em Corinto que estavam atrapalhando o culto com perguntas e conversas. Portanto, essa ordem seria apenas para manter a ordem de culto naquela igreja específica. Nicodemus e Grudem não concordam com essa afirmação. Ambos se voltam para o contexto do julgamento das profecias no culto. A proibição está voltada a isso, para que mulheres não julguem em posição de autoridade as profecias que estariam sendo entregues. Não há a intenção de proibir que a mulher fale o dê opinião na igreja. Além disso a passagem inicia especificando que essa é uma ordem para “todas as igrejas dos santos”, não apenas a igreja de Corinto em específico. Paulo mais uma vez deixa claro que esse é um princípio universal.

1 Timóteo 2.11-15:A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora. Entretanto, a mulher será salva dando à luz filhos — se elas permanecerem na fé, no amor e na santidade, com bom senso”

Essa é uma passagem fundamental para a questão da ordenação feminina. Ela ganha um certo peso por estar numa carta pastoral. A instrução a Timóteo é que a mulher não ensine e nem exerça autoridade de homem. Para entendermos melhor vamos analisar o contexto da carta. Timóteo estava na igreja de Éfeso e lá havia uma heresia que ameaçava a igreja. Haviam falsos mestres ensinando um certo de tipo de legalismo através de algumas abstinências de coisas legítimas. Eles tinham alguma influência entre as mulheres e estavam incentivando-as de alguma forma a distorcerem o papel da mulher, principalmente o da maternidade e o cuidado do lar. Augustus Nicodemus escreveu que esse falso ensino “incluía a rejeição dos papéis tradicionais da mulher no casamento, e um encorajamento para que elas reivindicassem papéis iguais nas igrejas e nos lares”. É contra esse falso ensino que Paulo se levanta nessa e em outras passagens.

Portanto, essa proibição de ensinar está ligada ao ensino com autoridade sobre os homens, algo que estava sendo incentivado pelos falsos mestres. O contexto das cartas pastorais também colabora com essa interpretação, visto que nessas cartas o ensino sempre tem o sentido de instrução doutrinária autoritativa feito pelas autoridades ordenadas como presbíteros. Paulo também proibe a autoridade feminina, falando aqui no contexto do ensino autoritativo que é restrito aos presbíteros. Portanto, fica claro que essa é uma posição de autoridade ordenada exclusiva dos homens.

Concluímos, portanto, que embora a mulher seja livre para servir à igreja com seus dons e com excelência, podendo inclusive profetizar na igreja, ela não pode exercer a posição ordenada de autoridade sobre os homens e o povo de Deus. Essa posição foi dada exclusivamente aos homens. Para o feminismo secular e evangélico essa é uma posição machista que trata a mulher como uma classe inferior ao homem e a impede de ser feliz e plenamente realizada. Partiremos agora para analisar biblicamente como deve ser essa liderança masculina e porque o feminismo está completamente enganado.

A autoridade-sacrifical requerida dos homens

O texto base que usaremos para analisarmos o tipo de liderança bíblica masculina é o de Efésios 5:22-30². Duas observações iniciais precisam ser feitas.

Em primeiro lugar, esse é um texto sobre a relação entre marido e mulher. Todavia, quero expandir esse padrão para a relação presbíteros (homens) e ovelhas (mulheres). Podemos igualar esses princípios porque o referencial de ambos é o mesmo, Jesus Cristo. Aqui a liderança do marido é comparada com a de Cristo e encontramos essa mesma comparação em relação ao pastor/presbítero em João 10.11: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”. Portanto, tanto a liderança masculina na família, como na igreja, estão baseada na autoridade-sacrifical de Cristo. É claro, que a liderança do Marido é mais íntima, intensa e abrangente, mas passarei a falar apenas dos princípios de autoridade e sacrifício que estão em ambos os casos.

Em segundo lugar, precisamos olhar para o contexto dessa passagem. Devemos perceber que o verso 22 está diretamente ligado com o verso 21. No verso 22, no original grego, não encontramos nenhum verbo, pois essa oração depende e deixa implícito o verbo da oração passada, ou seja, do verso 21. “Sujeitai-vos um ao outro no temor de Cristo” está diretamente relacionado a submissão da mulher ao marido. Expandindo o contexto até o verso 18 vemos que Paulo está falando de encher-se do Espírito, portanto, a submissão da mulher e a autoridade sacrificial do homem são questões de espiritualidade cristã.

Submissão voluntária da mulher

Paulo deixa bem claro dois pontos sobre a submissão da mulher. Ele fala primeiramente da essência e logo após da extensão. Poderíamos resumir em duas perguntas: Como é? Até onde vai?

Como é? A expressão “como ao senhor” e a comparação entre Cristo e a igreja nos levam a seguinte conclusão: a submissão da mulher deve ser voluntária e alegre. Ninguém se submete a Cristo como senhor contra a sua própria vontade. Mesmo nós calvinistas cremos que nossa vontade é mudada e voltada para Cristo, sem haver nenhuma coerção através de violência contra nossa vontade. Aqui podemos fazer uma dupla aplicação:

  • Mulheres precisam permitir voluntaria e alegremente que seus maridos e pastores as liderem. Mulheres solteiras, não se casem com homens que vocês sabem que terão dificuldades para se submeter.
  • Homens, não podemos impor nossa autoridade por meio da força ou ameaças. Homens solteiros, não se casem com mulher que não se submeterão voluntariamente.

Até onde vai? A resposta de Paulo a essa questão é um crime para o feminismo. “Em tudo” é a extensão da submissão da mulher ao seu marido. Em cada aspecto e detalhe da vida. É importante temos em mente mais uma vez o contexto. Paulo está falando a pessoas que estão se enchendo do Espírito Santo, portanto são habitadas por Ele. Paulo está falando em relação a maridos que são imitadores de Cristo, portanto, salvos e transformados por Ele. Concluindo, Paulo está falando de uma submissão em tudo à homens crentes e piedosos, verdadeiros imitadores de Cristo. Em relação ao pastor, naquilo que cabe ao pastor, as questões da vida da igreja, essa submissão também deve ser em tudo.

  • Não deve existir nenhuma área da mulher fora da submissão ao marido. Não invente aquela área que o seu marido não entra. Para as solteiras, enquanto há essa oportunidade, analisem bem o futuro namorado ou marido. Será que você será capaz de submeter toda a sua vida alegremente a ele?
  • Se a submissão da mulher é em tudo isso significa que a liderança do homem também. Não podemos deixar de liderar qualquer área que seja. Geralmente nós homens somos ou bons líderes materiais (provisão e proteção) ou bons líderes espirituais. Precisamos liderar por completo.

Autoridade-sacrifical do homem

Paulo passa a falar diretamente da liderança masculina. Aqui já encontramos o conceito da autoridade, visto que a submissão da mulher já foi tratada. Mas essa não é uma autoridade qualquer. Deus fez questão de qualifica-la. Por isso a Bíblia deixa claro que essa é uma autoridade sacrificial. E ela está baseada no evangelho. O modelo é o do amor entre Cristo e a igreja. John Stott chamou esse amor de “o amor do calvário”. É assim que um homem deve liderar a mulher³.

Existem 4 verbos que direcionam e qualificam a autoridade masculina nos versos 25 ao 27. Vou dividi-los em três responsabilidade masculinas.

Amor: Ao homem foi dada a ordem de amar. E se é uma ordem significa que o amor não é apenas um sentimento, mas uma atitude. É algo que se obedecer e pratica. O amor é uma atitude do homem para com a mulher. O Deus Trino decidiu amar os seus eleitos e Cristo tomou a atitude de ama-los e realizar uma obra de redenção por eles. Assim como em Cristo, o amor é uma atitude voluntária.

Sacrifício: A comparação com Cristo nos dá o ponto central da autoridade masculina: o sacrifício. Homens foram chamados a dar a vida pelas mulheres. Cristo se entregou voluntariamente, por nós na cruz do calvário. Sofreu por nós, humilhou-se, não levou em conta sua posição, mas esvaziou-se e fez um sacrifício perfeito. Isso é o evangelho. E o evangelho é centro da relação de autoridade-submissão entre homens e mulheres.

Responsabilidade: Paulo ainda usa outras duas ações, santificar e apresentar. A isso eu chamado de se responsabilizar pela vida da mulher. Ao homem foi dada a responsabilidade de trabalhar pela santidade da mulher e apresenta-la pura e sem mácula ao nosso Senhor. Que grande peso! É tarefa primordial do homem zelar pela vida espiritual da mulher. De proteger família e igreja dos ataques do diabo e das vãs filosofias desse mundo caído. Por isso o ensino autoritativo é tarefa masculina na Bíblia. Cristo tem zelado, santificado e guardado seus eleitos. Ele não deixará que nenhum se perca. Assim deve ser o zelo e a responsabilidade do homem.

Quero tirar algumas conclusões rápidas dessa passagem em comparação com a definição de machismo: a liderança ordenada exclusiva e opressora masculina, revelada por Deus, que classifica a mulher como sendo de segunda classe e menos importante na igreja, impossibilitando que ela seja plenamente realizada em sua vida.

Em primeiro lugar, essa não é uma liderança opressora. A mulher foi chamada a se submeter voluntariamente como a igreja, enquanto o homem ama se entrega voluntariamente como Cristo. Não há opressão de nenhum lado, nem força de coerção. Ao contrário disso, é o feminismo moderno marxista, que tentar impor seus padrões a homens e mulheres por meio da força das leis e projetos do Estado.

Em segundo lugar, a Bíblia não classifica a mulher como inferior ao homem. Assim como Deus Filho não é inferior a Deus Pai, a mulher não é inferior ao homem. Eles possuem apenas funções relacionais diferentes, e isso não significa inferioridade. O Filho se submete ao pai voluntariamente em igualdade de essência. Assim também a mulher ao homem. Ao contrário disso é o feminismo moderno marxista que rebaixa a mulher ao oferecer melhores condições não por meio da educação e do trabalho de forma igual ao homem, mas por meio do vitimismo e de cotas.

Em terceiro lugar, a autoridade-sacrificial não priva a mulher de ser quem ela deve ser. A mulher cristã tem seus papéis femininos descritos na Palavra de Deus e ao homem é dada a responsabilidade de santificar a mulher nesses papéis. A maternidade é um grande exemplo. Quão melhor para uma mulher é passar pela gestação e primeiros momentos do filho ao lado de homem que cumpre seu papel de líder e oferece um lugar seguro e tranquilo para sua esposa. Dito isso posso passar para as aplicações finais.

Aplicações para nossa vida

  1. Não participe de movimentos ideológicos totalmente opostos a cosmovisão Cristã. Conheçam o que está por trás. Se você quer lutar pela igualdade e por direitos legítimos da mulher o cristianismo é o movimento certo para você. A Igreja é o local certo e o evangelho a arma certa.
  2. Filosofias e ideologias passageiras desse mundo não podem substituir princípios teológicos eternos instituídos por Deus nas Escrituras. Conheçam esses princípios e a boa teologia. A sã doutrina deve ser nosso guia em tudo.
  3. Mulheres, não tentem ser totalmente iguais aos homens. Fomos criados para funções diferentes e complementares.
  4. Homens, a autoridade é sacrificial. Um menino só passa a ser homem de verdade quando se sacrifica por uma mulher. Devemos estar prontos para oferecer nossas vidas por nossas mulheres. Isso é exatamente o oposto de machismo e opressão.
  5. O Evangelho da cruz de Cristo é o equilíbrio dos gêneros. O feminismo evangélico nunca poderá negar que nossa redenção veio pela obra do homem Jesus Cristo e os homens nunca poderão fugir da comparação com essa autoridade de Cristo que se sacrifica pelas mulheres. O evangelho é a libertação da verdadeira opressão do pecado. Entregue sua vida ao evangelho.

O amor de um homem para uma mulher, em casa, na igreja e na sociedade deve ser o amor do calvário. E isso está longe de ser machismo. Isso é o evangelho de Cristo sendo experimentado entre nós para a glória de Deus!

Pedro Pamplona

* Você pode assistir a pregação sobre esse tema no vídeo abaixo:

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¹Indico o artigo de Augustus Nicodemus, Ordenação Feminia: O que o Novo Testamente tem a dizer?

²Indico a exposição de Augustus Nicodemus, Os Deveres Mútuos do Marido e da Esposa.

³ Indico aos homens a mensagem de Judiclay Santos, Sê homem!

Referências Bibliográficas

FOULKES, Francis. Efésios: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1983

GRUDEM, Wayne. O Feminismo Evangélico. São Paulo: Cultura Cristã, 2009

KASSIAN, Mary. The Feminist Mistake. Wheaton: Crossway, 2005.

LOPES, Augustus. Ordenação Feminia: O que o Novo Testamente tem a dizer? Fides Reformata 2/1 (1997).

MERIDA, Tony. Exalting Jesus in Ephesians. Nashville: B&H, 2014.

STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU, 2001.

 

 

7 Comments

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  1. Excelente texto meu irmão. Glória a Deus. E bom que também aprendi mais o feminismo, especialmente aquele defendido por mulheres cristãs, mais que não condiz realmente com tudo o que as Escrituras Sagradas nos ensinam.

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  2. Levi Vieira da Silva novembro 29, 2016 — 3:37 pm

    Uma reflexão profunda Pedro. Um texto oportuno. Soli Deo Gloria!

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  3. Tanta conversa para explicar o ordinário. Sim, somos machistas! Não há nenhum mal nisso. Independente da visão Cristã sobre o tema, foram homens machistas que construíram e moldaram nosso mundo. Sociedades matriarcais nunca funcionaram, restam poucas tribos africanas nesses moldes vivendo em semelhança a idade da pedra. Todo esse movimento feminista radical não se sustenta por seus próprios méritos e sim pela ausência da figura masculina hoje, o calcanhar de Aquiles de nosso mundo ocidental . Feminismo tem gerado homens fracos, homens fracos são dominados por homens fortes, vide como encontra-se a Europa, braços cruzados para a ascensão islâmica. Contra evidências não há argumentos, o que passa disso é balela!

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  4. Excelente! Deus o abençoe!

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  5. Claro, que a Bíblia não é machista, os Homens que são, querem todos os privilégios de mando, de comando, de decisão, de púlpitos altos, de cadeiras macias, de presbitérios ostentandos, e para as Sub, bem, já que foram criadas por nossa causa e não nós por causa delas, já que vieram de uma mísera e infeliz costela nossa, é nós não somos um subproduto medíocre delas, que fiquem na servidão e na obediência, simples assim.

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  6. Texto excelente!! Muito bem elaborado!!
    Deus te abençoe, Pedro!!

    Posso replicá-lo no blog Barrabás Livre??

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